PESQUISA ARQUEOLÓGICA COMEÇA A RESGATAR HISTÓRIA NA BACIA DO SÃO RAIMUNDO

Arqueologia urbana começou a ser trabalhada nas áreas do PROSAMIM, na Bacia do São Raimundo. A pesquisa prioriza a pesquisa social e o resgate de padrões de assentamento de grupos humanos,que são os habitantes dos beiradões.

O trabalho atende a dispositivos legais que estipulam que em qualquer obra civil ,que implique intervenção em subsuperfície, haja, previamente, estudos de arqueologia.

Etapas do trabalho:

1)      Levantamentos bibliográficos e orais;

2)      Pesquisas de campo (05 a 24 de novembro de 2012 – no Igarapé Belchior);

3)      Análise de laboratório e educação patrimonial.

A proposta  também é  de identificar  a densidade de materiais arqueológicos,  pré-coloniais, históricos e contemporâneos utilizados, em diferentes momentos, para aterrar os igarapés.

Segundo o primeiro relatório da pesquisa,já repassado à Subcoordenadoria Ambiental do PROSAMIM, já foi possível comprovar, por exemplo, a existência de olarias em algumas áreas pesquisadas.

Após a fase  de escavação,foi  iniciada a análise de laboratório,quando os arqueólogos  fazem triagem do material coletado por meio de lavagem, contagem, numeração e remontagem. Com esse processo é possível o entendimento da produção tecnológica, dispensada a cada material como tijolos e telhas, por exemplo, em diferentes períodos da história.

A alternância  de tipos diferenciados de solo, a cada aprofundamento na escavação, conforme o estudo realizado é um indicativo de que o local pesquisado seja uma área de aterro.

Comunitários são esclarecidos sobre o resgate histórico

Durante as escavações o conhecimento gerado tem sido  compartilhado com a comunidade das áreas. A proposta é despertar o interesse  pelo “fazer arqueológico” e, assim, a consciência de preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro.

Para reforçar essa comunicação a equipe do “Resgata Arqueológico” está elaborando um kit informativo e expositivo do patrimônio arqueológico, formado a partir do material coletado.

Equipe de pesquisa do Resgate Arqueológico é multidisciplinar

A equipe envolvida no trabalho do “Resgate Arqueológico” é coordenada pela arqueóloga Arminda Mendonça, e integrada por geógrafo, turismólogo, estudantes de arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA),uma acadêmica de Gestão Ambiental ,uma  jornalista e uma publicitária.

Mostra arqueológica será exibida à comunidade

A equipe que realiza o “Resgate Arqueológico” na área da terceira etapa do PROSAMIM está preparando uma mostra arqueológica  itinerante. Ela irá percorrer as calçadas dos entornos de obras, as frentes de obra e demais locais públicos,onde as pessoas possam verificar de perto um pouco da história do local.

Depoimentos da comunidade ajudam no resgate da história

O “Resgate Arqueológico” em áreas do PROSAMIM , como parte da etapa inicial do processo de captação de informações, também envolve captação de informações com  moradores da comunidade do entorno do Igarapé trabalhado. Os moradores   falam sobre fatos que já não são tão lembrados por muita gente em Manaus e ajudam a enriquecer o trabalho de pesquisa.

Foram entrevistados moradores das Rua Wilkens de Mattos,Leonardo Malcher,Ramos Ferreira; e das Vilas Leonardo Malcher, Acocho, Beco da Dica, Vila dos Carneiros,Vila dos Galáticos,Vila Abrahim , Vila Mathias, Vila Cruz e Vila da Arminda. Todos os locais ficam  no Bairro de Aparecida.

O morador José Mathias dos Santos, de 87 anos, reside, desde que nasceu, nas proximidades do Igarapé Belchior, em Aparecida. Ele é filho do português Antônio Mathias dos Santos, que montou a fábrica de móveis “Mathias dos Santos” no local. O empreendimento só fechou as portas em 2009. Hoje, Sr. José Mathias é proprietário de casas, vilas e galpões na área do Igarapé Belchior e relatou que ainda existem muitos ex-funcionários ,da antiga serraria, residindo em vilas e imóveis cedidos por ele.

Um segundo entrevistado foi Manuel Ferreira Lopes, de 76 anos. Ele mora na área do Igarapé Belchior e descende do grupo que construiu a serraria “Mathias dos Santos”. Manuel lembrou que nas beiradas do igarapé do bairro de Aparecida existiam muitas árvores frutíferas e que sempre apareciam por ali bois que fugiam,algumas vezes, do matadouro que fica próximo ao local.

O micro empresário Waldemar de Almeida Torres, 65,reside ,desde 1957, na Vila Wilkens de Mattos e diz que no terreno do Sr. Wilkens haviam muitas cueiras. Entre os fatos inusitados da década de 60, o morador  destacou o dia em que viu as manduquinhas da polícia civil serem viradas por jovens da área, em retaliação à proibição da brincadeira de papagaios.

Das construções antigas do entorno do Igarapé Belchior, além da serraria do Sr.Matias, também foi citada a primeira usina de luz à lenha de Manaus, que se localizava no final da rua Wilkens de Mattos.Quem rememorou a obra foi o morador  Luiz Carlos Souza, 58 anos. Luiz falou ainda   sobre as jangadas ,feitas com grandes toras de madeira, e sobre as quais ele pescava muito tucunaré, no igarapé que passa no bairro.

A dona de casa Suely Grillo da Costa, 61 anos, reside ,desde a infância, nas proximidades do Igarapé Belchior, no bairro de Aparecida. Lá, através do pai adotivo, ela  que  existiam duas olarias – a Grillo e a Fábrica de Cachetas. A olaria Grillo pertencia à família que acolheu Suely e funcionou até o ano de 1978. A mesma família também era proprietária de muitos imóveis na área, inclusive do conhecido Chalé Urubus, que caiu com um temporal na década de 90.

Outra particularidade descoberta através das pesquisas de “Resgate Arqueológico” na área do Igarapé Belchior é que nele não entravam barcos. O igarapé, segundo o morador Zuilo Viana, de 79 anos, era muito estreito e por lá ,apenas em alguns pontos, só passavam pequenas canoas. Ele lembrou que o igarapé também era conhecido com Igarapé de Curre.

 

Fonte texto: Projeto de monitoramento , prospecção em superfície e resgate em subsuperfície/salvamento do patrimônio arquológico na área de implantação do PROSAMIM III, com proposta de ações em educação patrimonial

Relatório parcial do sítio arqueológico do Igarapé Belchior – PROSAMIM III e registro da história local.